Professor de Jornalismo e autor de livros diz o que se deve ou não fazer ao escrever um texto
Escrever é como bater falta: o talento ajuda, mas é com treinamento diário que você se torna um artilheiro. Só que não adianta sair chutando a bola de qualquer jeito, algumas técnicas precisam ser seguidas para acertar o gol. Para conhecer algumas delas, conversamos com quem entende do assunto: Jorge Tarquini, professor do curso de Jornalismo da ESPM, autor dos livros O Doce Veneno do Escorpião e Vinte Mil Pedras no Caminho, que também é curador de conteúdo do #TMJ.
Confira a seguir as dicas do especialista sobre como escrever bem:
1 – Ler é fundamental
Quem não lê, não escreve. Além disso, demora um tempo para que um jovem jornalista desenvolva uma personalidade para seu texto. Isso acontece mais rapidamente para aqueles que leem mais – e que desenvolvem o que chamamos de repertório de estilo, que trazem referências diversificadas
2 – Você não precisa saber tudo de gramática
Claro que dominar as regras básicas é o mínimo. Porém, não tenha vergonha de consultar um bom livro de gramática ou de recorrer a bons manuais de redação e estilo (há vários muito bons no mercado: Folha, Estadão, CBN, O Globo…)
3 – Nada de frases longas e repletas de apostos
Aposte em períodos curtos e objetivos. Frases longas embaralham o entendimento e diluem a informação principal. É como quando você amontoa coisas numa estante: onde tudo “grita”, nada grita… Melhor conduzir o leitor pela mão, como se estivesse mostrando sua casa para ele: precisa de um roteiro lógico e agradável
4 – Nem frases feitas ou lugares-comuns
Se todo mundo pode usar, você não usa, ok?
5 – Evite repetir palavras
Quando ocorrem em um mesmo parágrafo empobrecem o texto
6 – Também não abuse de sinônimos
Se já usou carro, veículo e automóvel (o que já é um crime, pois a construção do texto poderia impedir a necessidade de tantas repetições desse substantivo…), não vai rolar viatura, bólido etc
7 – Nem de adjetivos
Seu texto precisa ser substantivo
8 – Escolha a palavra mais curta
Quando estiver em dúvida entre duas com o mesmo significado
9 – Não escreva parágrafos longos
“Imagine ler um parágrafo, que deveria ser curto, mas que, por escolha deliberada do autor que não respeita o tempo e o fôlego do leitor –, acaba sendo longo e repleto de apostos (além de comentários, parênteses, travessões e pontos-e-vírgulas etc.) e que reúne muitas ideias diferentes, debatendo questões que nem sempre se complementam, podendo levar o leitor a não entender bem do que se trata aquele trecho do texto, o que, certamente, vai fazer com que quem lê não chegue até o final do parágrafo e que, mesmo que o faça, tenha de reler tudo para conseguir sintetizar a quantidade enorme de informação (não necessariamente desnecessária ou supérflua), pois teve sua compreensão comprometida exatamente por se deparar com um período longo, confuso e sem pontuação”. Viu só?
10 – Nem os separe sem critérios
Só há um critério: temas autocontidos. Trate cada assunto do seu texto em um parágrafo. Veja o exemplo a seguir:
“Durante a reunião com o ministério, o presidente argentino defendeu de modo enfático o papel do governo no combate à pandemia. Sobre as comemorações do centenário de Carlos Gardel, surgiram muitas ideias…”
11 – Não faça jornalismo declaratório
Lead ou um abre, aspas da fonte um (disse fulano), aspas da fonte dois (explica sicrano) e fechamento. Aposte na contextualização para seu leitor
12 – Escolha um verbo dicendi decente
Dizer, afirmar, explicar, declarar etc. são corretos, claro. Porém, há ocasiões em que é preciso fazer com que quem lê entenda as circunstâncias e o subtexto da declaração. Exemplo: “Gosto de chocolate”, diz fulano. Muito bem: ele disse isso se vangloriando, lamentando, festejando, se envergonhando? Ou seja: ajude quem lê a entender
13 – Leia seu texto em voz alta
Ler em voz alta ajuda muito, pois mesmo para ser lido “em silêncio”, um texto precisa ter bom ritmo. Se ele tira seu fôlego ao ler em voz alta, vai tirar o fôlego de quem lê em silêncio
14 – Peça para outra pessoa ler seu texto
Um olhar menos “viciado” no texto vai pegar bobagens de revisão e de digitação que o autor não enxerga mais (é cientificamente comprovado: depois de algumas leituras, nosso cérebro se antecipa ao que está escrito – que é o que acontece em processos de atores para decorar um texto, por exemplo). O mesmo acontece com o que é óbvio ou não: para o repórter ou quem pesquisou sobre o tema, algumas coisas estão subentendidas – mas podem ser obtusas ou confusas para outro leitor.
Fonte: TMJuntos