Como falar do lançamento de um novo prato sem degustar a comida feita diretamente pelo chef? E escrever sobre uma mostra de decoração sem visitar os ambientes? E, além disso, descrever um desfile longe das passarelas? Os desafios de uma cobertura jornalística online, realidade em meio à pandemia, põem à prova a criatividade das marcas para atrair o interesse. Nesse sentido, é preciso perseverança para manter a atenção dos profissionais via streaming ou outros formatos a distância.
Colunista de gastronomia da Rádio 98 FM, de Belo Horizonte, o jornalista Antonélio Souza tem um programa, o Buteco 98. A atração é transmitida aos sábados no FM bem como pela internet. Em sua rotina, acostumou-se a participar de lançamentos em restaurantes e festivais.
Do presencial para o online, no entanto, a cobertura mudou – e muito. “Passamos a usar vídeos e outros materiais produzidos pelos próprios restaurantes como uma forma de ajudar a divulgar o setor, que sofre muito neste momento de pandemia”, explica.
Antonélio conta que os jornalistas especializados em gastronomia começaram também a receber em casa pratos e bebidas para degustar. “Uma vinícola, por exemplo, vai fazer um lançamento agora. Eles mandam o vinho para casa para que todos degustem no momento do evento online e mandam a recomendação sobre qual temperatura o vinho deve ficar”, exemplifica.
Outra forma, de acordo com o jornalista mineiro, é receber os ingredientes, com todas as instruções para finalizar em casa. “Ainda estamos em busca de um modelo perfeito para esse tipo de cobertura a distância, mas é verdade que alguma coisa se perde nesse processo. Aquela sensação de degustar a comida feita na hora, o sabor, o cheiro, a textura… Fica mais frio, mas temos de contornar e fazer uma imersão em casa mesmo”, descreve.
A jornalista Rachel Sabino, especializada em moda, já fez a cobertura de desfiles no Brasil e no exterior, tanto presencial quanto online. “A presencial é muito mais rica. Como é muito descritiva, faz total diferença para identificar o tipo de tecido, ver a trama, olhar a peça. Também é possível sentir a emoção do desfile, a vibração da música e o ambiente. Se ficar longe e não conseguir acesso ao backstage e ao showroom da marca, no entanto, às vezes fica difícil ter detalhes”, expõe.
Ainda assim, ela destaca que o online é prático, não tem deslocamento e democratiza a informação para o público. Mas também testa a criatividade das marcas na hora do desfile.
Algumas apresentam fashion films interessantes, por exemplo. Um ponto negativo é que, às vezes, a edição é muito rápida e não permite uma boa visualização das peças.
Ela lembra de uma cobertura híbrida que fez de desfiles das marcas Gucci e Prada em Milão em 2019. “Na ocasião, não consegui acesso aos desfiles, mas acompanhei online e consegui visitar o showroom, que faz uma grande diferença, porque tive acesso às peças e as explicações das coleções”, relembra.
Ainda na área de moda, na última semana de junho, a São Paulo Fashion Week promoveu a edição 51, a segunda 100% online, em função da pandemia.
Para chegar aos jornalistas e outros stakeholders, o evento contou com solução de Inbound PR do I’Max. Media room para distribuição de conteúdo de texto e imagem das marcas para os profissionais da imprensa foi uma das ferramentas criadas pelo I’Max. Veja neste link.
Tentativas, erros e acertos: a experimentação do online
Com clientes da área de decoração, a diretora de redação da agência de comunicação A4&Holofote, Cláudia Kucharsky, destaca que a corrida por marcar presença online levou à experimentação de diversos formatos e a aprender o que funciona ou não.
“Aos poucos, as marcas entenderam que era preciso ter conteúdo de qualidade para apresentar”, observa. Trabalhando em conjunto com as equipes de marketing, Cláudia conta que foram sendo definidas ações mais atraentes.
A maioria dos lançamentos da indústria de decoração costuma ocorrer em feiras, como a Revestir, que teve uma edição virtual. “Nesse formato, a possibilidade de networking é prejudicada e os produtos não são tão bem expostos. As marcas decidiram, então, complementar com outros eventos”, salienta.
Ela cita algumas iniciativas bem-sucedidas. “No caso da Ceusa, por exemplo, que tinha uma coleção colorida e jovial, mesclamos o tema decoração com moda, trazendo Isabela Capeto e outras personalidades para falar sobre a influência da moda na criação dos revestimentos”, detalha.
A Portinari, que tinha uma coleção mais sofisticada, transmitiu, da Sala São Paulo, a apresentação de um quarteto de cordas e fez um painel sobre a ressignificação do “morar”. “Os eventos tiveram um quórum ótimo”, explica. Outra marca, a Cosentino, líder global na produção e distribuição de superfícies inovadoras para arquitetura e design, enviou um café da manhã para os jornalistas como convite, para que degustassem no momento do evento online.
Modelo híbrido veio para ficar
Uma iniciativa para tentar estender a experiência do online foi o Janelas Casa Cor. A tradicional mostra Casa Cor, nesse projeto de 2020, instalou vitrines em contêineres decorados por arquitetos e designers nas praças e ruas de 11 cidades. Fechadas, as instalações só podiam ser apreciadas a distância. Ao mesmo tempo, o online convidava a um tour virtual, abrindo a possibilidade de conhecer os ambientes e assistir às explicações por vídeo dos profissionais da mostra.
Com mais de duas décadas de cobertura na área de decoração, a jornalista Sandra Leise, à frente da revista Decorar, acredita que os eventos online até possibilitam aos jornalistas participar de mais lançamentos virtuais e podem agilizar a rotina dos repórteres na redação. Mas, em sua opinião, nada se compara a uma experiência presencial.
“A percepção fica muito aquém no ambiente online. O impacto da textura de um produto, a atmosfera de um ambiente, as noções de profundidade e proporção. Toda essa dimensão fica prejudicada. Falta a alma do negócio”, acredita.
Conforme Sandra, um modelo híbrido seria o mais apropriado. Assistir a uma apresentação online, mas também visitar, com hora marcada, o lugar para conhecer de perto o produto, é um exemplo.
Editor online da Casa e Jardim, Alex Alcântara, também aposta no mix de experiências virtuais e reais. “O segmento soube inovar ao trazer as versões digitais, ou ‘figitais’, um híbrido de físico + digital, levando o evento para a casa dos jornalistas, enviando pequenas amostras e, por vezes, um pouco da experiência digital para o lar da imprensa”, diz. Mas… “nada supera o encanto e o calor do presencial”.
Por outro lado, Alex acredita que o digital facilitou a conciliação de agendas, sobretudo em São Paulo, onde o trânsito é pesado e o deslocamento demorado. Em 2020, a Casa e Jardim realizou a cerimônia do Prêmio Casa e Jardim totalmente online, de acordo com ele, com boa audiência em todas as plataformas.