Estudo mostra que jornalistas planejam monetizar conteúdos a curto prazo, mas leitores e ouvintes ainda estão presos no jornal local da TV aberta
Um estudo global do Future Today Institute sobre o futuro do jornalismo revela que há uma preocupação demasiada dos jornalistas com o aqui e o agora. Mais do que estratégias para o futuro, os desafios são imediatos.
Setenta por cento dos jornalistas disseram que pensam diariamente ou várias vezes por semana no futuro da sua redação nos próximos 12 meses, mas apenas 20% se preocupam com o cenário daqui a cinco anos.
Tais dados podem revelar, segundo o relatório, falta de estratégia para pensar em formas diferentes de disseminar notícias, novas tecnologias ou mesmo no viés democrático da imprensa. Veículos de comunicação – jornais, revistas, internet, rádio ou TV – estão preocupados em pagar as contas, ampliar sua audiência e reter talentos. Além disso, convivem com uma crise de credibilidade, o que afeta jornalistas de redação e assessorias de imprensa.
O Future Today Institute foi fundado em 2006, com a intenção de pesquisar tendências em diversos setores. A CEO, Amy Webb, recentemente foi bastante aclamada ao participar do SXSW, o maior festival de inovação do mundo. A ideia do Instituto é dar suporte a lideranças executivas em decisões estratégicas.
Neste estudo sobre o jornalismo, o Instituto realizou uma série de pesquisas online de 25 de outubro de 2021 a 8 de fevereiro de 2022. Os participantes foram recrutados por meio de associações de jornalismo, incluindo o Centro Internacional para Jornalistas, entre outros.
Veja alguns insights do estudo:
• Mais da metade dos entrevistados apontaram como desafios urgentes “fortalecer a cobertura local”, “melhorar a experiência do usuário” e “aumentar a receita de anúncios”.
• Apenas um quarto dos entrevistados achava que sua redação lidaria com a “aplicação de IA (inteligência artificial) na redação” nos próximos cinco anos e apenas 10% dos entrevistados imaginaram a redação onde trabalham divulgando notícias em mecanismos de realidade virtual ou aumentada.
• As fragilidades mais comuns apontadas foram o fluxo de receita com anúncios e a viabilidade de manter formas de distribuição antigas.
• Em relação ao modelo de negócios, há sérias preocupações em restabelecer a confiança da população na mídia, atender às principais necessidades do público, além da capacidade de recrutar e reter talentos em jornalismo.
Apesar disso, há uma perspectiva otimista. Quase metade dos entrevistados achava que o futuro de longo prazo das notícias (mais de 5 anos) seria melhor ou muito melhor do que o futuro de curto prazo (menos de 5 anos).
E o leitor, o que pensa? Será que paga por notícia?
O Instituto, em parceria com a Ipsos, também ouviu 1.002 adultos norte-americanos, sobre os seus hábitos de consumo de notícia e como acreditam que será no futuro.
Raramente, eles pensam em como consumirão notícias no futuro, mas 29% relataram sentimentos negativos em relação às notícias, a maior parte dos entrevistados. Pelo menos 80% relataram não pagar para consumir notícias e, entre eles, 16% não são otimistas em relação ao futuro do jornalismo. Já entre os que pagam para um acesso on-line, 38% são otimistas.
Se os jornalistas estão preocupados muitas vezes em pagar as contas, apenas 16% dos entrevistados consideraram que “gerar receita” era um dos maiores desafios enfrentados pelos meios de comunicação e apenas 8% encaram como um desafio “desenvolver novos modelos de negócios”.
Em contrapartida, quase metade dos consumidores de notícia apontam o combate à desinformação como um dos maiores desafios que os meios de comunicação enfrentam atualmente: 57% concordam com a afirmação que a grande mídia é mais interessada em ganhar dinheiro do que em dizer a verdade.
Mesmo que as organizações de notícias tenham investido em experiências digitais, o estudo aponta que a TV continua sendo o canal de distribuição mais comum para os consumidores obterem suas informações: 35% consideram os noticiários da TV local são a “maneira mais agradável de consumir” as notícias e quase metade dos entrevistados disse que assiste regularmente aos noticiários da TV local.
Menos de 10% dos entrevistados disseram que consomem regularmente um podcast de notícias, por exemplo. “Esses dados sugerem que as organizações de notícias têm uma demanda substancial não atendida por seu portfólio de produtos emergentes ou que seus investimentos até o momento não estão atendendo às necessidades do público”, aponta o relatório.
Quase 60% afirmaram, por exemplo, que só leem ou consomem notícias se puderem acessá-las gratuitamente.
5 reflexões para executivos de mídia
O estudo lança algumas questões que servem de reflexão para os executivos da imprensa. Perguntas que se lançam como desafios para pensar no futuro do jornalismo.
Veja quais são:
1. Como a confiança na mídia (ou falta dela) influenciará o futuro do modelo de assinaturas?
2. Como o sucesso ou fracasso da monetização de conteúdo influencia na estratégia?
3. Como as pessoas, incluindo jornalistas e consumidores, encontrarão informações no futuro?
4. Como as tecnologias emergentes mudarão a capacidade dos jornalistas de relatarem as notícias? Quais novas habilidades eles precisarão ter?
5. Que suposições nossos planejamentos estratégicos fazem sobre o futuro da tecnologia, da economia?
Leia o relatório completo em https://futuretodayinstitute.com/mu_uploads/2022/03/GlobalSurveyJournalismFuture_031422-1.pdf