Dominado por empresas familiares, o setor de autopeças está atraindo a atenção dos fundos de private equity, brasileiros e internacionais. A gigante americana Carlyle e a SPX Capital já sondaram nos últimos meses duas varejistas desse segmento, uma delas em um potencial negócio de R$ 2 bilhões. A Advent, também dos Estados Unidos, comprou a Fortbras e passou a usar a companhia para fazer várias aquisições no segmento pelo Brasil. A última delas foi a goiana Jaicar, em janeiro.
As varejistas de autopeças movimentam R$ 100 bilhões ao ano no Brasil, em um mercado ainda muito pulverizado e regionalizado. Entre as maiores do setor, estão a MercadoCar, de São Paulo, com faturamento acima de R$ 1 bilhão, e o Grupo Comolatti, que este ano completou 65 anos. Já no exterior, sobretudo nos Estados Unidos e China, os private equity ganharam muito dinheiro apostando nesse segmento, afirma o diretor de um fundo.
Valorização de veículos usados impulsiona mercado de reposições
A líder do setor automotivo da KPMG no Brasil, Flávia Spadafora, diz que a valorização recente dos veículos usados tem promovido expansão do mercado de reposições, atraindo investidores para o varejo de autopeças, inclusive online. “Este mercado está superaquecido e algumas empresas estão surfando essa onda e até mirando o mercado de autopeças para venda para as montadoras”, afirma.
Além do varejo de autopeças, os fundos olham também para as empresas fabricantes de autopeças, que tiveram suas fragilidades expostas na pandemia. “É um segmento de margem baixa, alta pressão sobre os custos e que perderam liquidez ao longo do tempo. Muitas ficaram no meio do caminho, e o que temos visto é que as montadoras têm incentivado alguns fornecedores a buscarem consolidação”, diz Spadafora.
Fundos prospectam também fabricantes do segmento
A H.I.G. Capital, baseada em Miami, adquiriu a Tecfil, de Guarulhos, que fabrica filtros automotivos. Um outro fundo estrangeiro, assessorado pela FT Aquisições, está em busca de uma fabricante de autopeças preferencialmente no Sul/Sudeste, para comprar de 40% a 100% da empresa, em um investimento mínimo de R$ 100 milhões. Uma das condições é que essa fabricante tenha faturamento anual de ao menos R$ 200 milhões.
Segundo Spadafora, o movimento de consolidação entre as fabricantes de autopeças acontece dentro de uma lógica de linha de produção, algumas vezes orientada pelas próprias montadoras, com o que vão agregando serviços.
Os fundos de private equity têm aparecido como interessados em participar não só desse processo de consolidação da cadeia de fornecedores das montadoras, mas também entrado para reestruturar aquelas com grandes problemas. “Vários fundos estrangeiros que entram em empresas para promover uma reestruturação financeira e operacional olham para o mercado brasileiro com grande interesse”, conta.